doze da manhã, mercado da boqueria. parada 41, és la más económica desde hace 35 años, comenta o velinho que tem o número 45 da fila. suas lentes azuis dos óculos estilo surfer não disfarçam o hálito de carajillo recém entornado em algum dos botecos da redondeza. e essa tampouco é sua preocupação. andaluz, desses baixinhos, me conta que quando chegou à barcelona levava um ano e meio de casado e vivia na pintor fortuny. foi quando começou a freqüentar a parada 41 da boqueria, que há pouco mais de três meses saiu do meião para o canto direito da parte baixa do mercado, perto da área de carga e descarga de mercadorias. enquanto ele fala, constato e com tristeza que o negócio deve ter perdido a rentabilidade: loli lo ha puesto en venta. o andaluz me conta a piada da coca - medio quilo se le va a poner muy duro -, e logo me pede desculpas pelo tom do chiste. sem deixar de sorrir em nenhum momento, se aproxima e me toca o braço várias vezs enquanto conta outra história, essa real. e es que hace 35 anos , sua mulher, com quem agora leva 36 anos e meio de casado, ganhou 500 mil pesetas no gordo de navidad. com o dinheiro, sairam de perto da boqueria para um piso mais amplo e mais iluminado no eixample. por trás das lentes azuis os olhos brilham: a casa fica na carrer consell de cent, uma das mais hermosas do bairro projetado por cerdà. dou meu enhorabuena com atrasao, mais pelo casamento de tanto tempo que pelo piso, e penso com meus botões depois de me despedir com um aperto de mão: superstição é a gente que inventa.
dos menos diez. às duas e meia começa o batente. antes vou comer um caqui ´desses duros, que aqui levam um nome árabe.