2046 é a memória de wong kar wai em celulóide. todos os outros filmes estão ali, até o acento argentindo está, e perfídia ainda é o bolero que embala lindas mulheres em figurinos maravilhosos. a história - o escritor, o quarto do hotel de quinta, algum lugar da china aoparentemente nos anos 40, externas com chuva, internas quentes - tem muito a ver com in the mood for love. escritas simlutaneamente, parece que fica tudo explicado. mas não é uma continuação. talvez sim seja a mesma história só que outra, ou outra história, com os mesmos personagens, mas totalmente outra. o futuro de wkw está no livro do escritor. faz parte da história, mas não é a história. a história é, más bien, sobre a memória. a memória de wong kar wai.
imigrante - nos anos 60, quando tinha cinco anos de idade, sua família deixava a república popular da china e se instalava em hong kong -, wkw conta que queria fazer um filme sobre sobre uma sociedade, a chinesa, que optou num determinado momento da história por não mudar. ou por não querer mudar.
doze da manhã, mercado da boqueria. parada 41, és la más económica desde hace 35 años, comenta o velinho que tem o número 45 da fila. suas lentes azuis dos óculos estilo surfer não disfarçam o hálito de carajillo recém entornado em algum dos botecos da redondeza. e essa tampouco é sua preocupação. andaluz, desses baixinhos, me conta que quando chegou à barcelona levava um ano e meio de casado e vivia na pintor fortuny. foi quando começou a freqüentar a parada 41 da boqueria, que há pouco mais de três meses saiu do meião para o canto direito da parte baixa do mercado, perto da área de carga e descarga de mercadorias. enquanto ele fala, constato e com tristeza que o negócio deve ter perdido a rentabilidade: loli lo ha puesto en venta. o andaluz me conta a piada da coca - medio quilo se le va a poner muy duro -, e logo me pede desculpas pelo tom do chiste. sem deixar de sorrir em nenhum momento, se aproxima e me toca o braço várias vezs enquanto conta outra história, essa real. e es que hace 35 anos , sua mulher, com quem agora leva 36 anos e meio de casado, ganhou 500 mil pesetas no gordo de navidad. com o dinheiro, sairam de perto da boqueria para um piso mais amplo e mais iluminado no eixample. por trás das lentes azuis os olhos brilham: a casa fica na carrer consell de cent, uma das mais hermosas do bairro projetado por cerdà. dou meu enhorabuena com atrasao, mais pelo casamento de tanto tempo que pelo piso, e penso com meus botões depois de me despedir com um aperto de mão: superstição é a gente que inventa.
dos menos diez. às duas e meia começa o batente. antes vou comer um caqui ´desses duros, que aqui levam um nome árabe.
os que passam por aqui certamente já passaram por lá, mas tenho que registrar: ontem foi um dia lindo. barcelona amanheceu com cerração e terminou com um céu estreladíssimo. no entremeio, às seis da tarde, um público de umas 100 pessoas lotavam uma sala da prefeitura. o motivo era a entrega de um prêmio para estudantes de segundo grau, o premio floquet de neu. no mesmo ato, foi apresentado ao público uma hq colorida e cheia de personalidade baseada na história do início da vida do bichinho que depois se tornou um símbolo para barcelona: les aventures del floquet de neu. parabéns, meu amor! e muchas gracias por existir e fazer tantas coisas lindas, entre elas me dar o melhor presente que eu podia esperar desses dois primeiros anos de barcelona...
voltei aos primórdios. mas não soube ajeitar a casa do jeitinho que gostaria. faltam conhecimentos técnicos e paciência para descobrir onde vai o quê no código do template.
crédito para o brasil:
com sotinho, el terrat responde, em catalão, ao bajón do diogo mainardi
andreu buenafuente é um persongem de primeiro escalão no cenário televisivo local -e por uma questão qualitativa, hay que dejar claro que o cenário televisivo catalão é bem diferente do cenário televisivo (basurero) español. sim, há um proceso de cambio e regulamentação posto em marcha na televisão espanhola, mas não é o que me interessa nesse momento. o que interessa agora é que buenafuente dirige um espetáculo humorístico brasilianista, sotinho, cuja estréia está marcada para demá no teatro club capitol. o resumo da obra, estrelada pela companhia el terrat, marca o tom do deboche e do que me parece ser uma bela resposta a pessoas que pensam como o diogo mainardi:
sotinho, boig (maluco) pel brasil, transporta a partir del 17 de novembre a l'espectador al país carioca (é assim que nos vêem aqui, já disse a anlene) i mostra la seva idiosincràsia, el seu color, el seu ritme i les seves misèries... tot, sota el punt de vista de l'humor embolcallat d'una exel.lent banda sonora tocada i interpretada en directe (pela banda batucalada). però no és un musical!!!
sotinho sai do nome do protagonista, edu soto, abrasilianado: para os catalães, pelo menos, falar brasileiro é falar em diminutivinho. e falar de brasil é falar de paixões:
este espectáculo nace de la necesidad de eduard soto de compartir una pasión: brasil y su extraordinaria cultura musical. junto a mónica green han creado un espectáculo en el que viajamos con la imaginación hasta el país sudamericano. diversos personajes irán a apareciendo sobre el escenario para darnos su particular visión con gags surrealistas, divertidos monólogos, música y teatro. una banda completa el reparto de este especial musical en el que las potentes percusiones y las composiciones de soto y green harán que el público se contagie de la alegría brasilera que ha inspirado este 'sotinho'.
tenho acompanhado o tema brasil por aqui, profissionalmente também, mas principalmente porque é impossível deixar passar tantas referências e tanta curiosidade. e achava que tudo não passaria de um verão ou dois. tudo indica que não: carlinhos brown continua tocando a mil nos carros em pleno inverno e a febre brasileira, ao que parece, vai continuar contagiando os que estiverem predispostos. a vulnerabilidade, digo yo, ainda é grande. o terreno é fértil tanto para fomentar como para reavaliar estereótipos.
Género:
Otros géneros
Fecha de estreno:
16 de Noviembre de 2004
Horario:
De miércoles a viernes a las 21 h., sábado 19 y 21.30 h., domingo 19 h.
Precio:
18 y 22 euros
Club Capitol
a rota vai crescendo com novos cafés para quando barcelona é uma festa e o dinheiro não sobra - como na paris de hemingway, um dia terá que sobrar. o almiral e o muy buenas são tão modernistas quanto o marseille, mas sem os camareros que parecem modelos do jean paul gaultier. e sem o cheio a absinto. café para o meio da semana, jamais para sábados ou domingos - talvez numa sexta. mas nesse dia o melhor é subir até o poble sec, pela nou de la rambla mesmo. na esquina, lá na rambla do poble sec, na frente de um locutório - um ponto de observação privilegiado. además, o vinho é razoável, e o litro sai a 1,20.
a vista do nono andar da ronda de sant pau é uma das mais agradáveis que eu já tive da cidade. de frente para o montjuic, se vê quase todas as torres da cidade: a collserola, o montjuic, a torre de ferro do bondinho da barceloneta. um cento e oitenta graus pela esquerda do eixample, com sants e o porto e muito verde. a terraza que tinha de tudo - quatro marias incluídas - já foi podada e agora se enche com o rosa shock das primaveras. a meta, e não é difícil de ver, é a terraza que a carmen maura tinha no mujeres al borde de un ataque de nervios, lembram? perfeita, e sem as galinhas e os coelhos. já avisei a tati que passarei por lá mais vezes nesse inverno. pra tomar sol.
a preguiça do sábado nos leva até a biblioteca do mercadona. antes de chegar, uma parada obrigatória para arreglos superficiais: o pneu que tinha furado agora tá pegando na proteção da roda, e com isso o freio não funciona. o tiozinho das bicis fica no caminho, assim que entro. e enquanto explico o que acontece, começa o follón: a mulher do tio das bicis, ou seja, a tia das bicis, está recebendo ameaças, e com dedo no nariz, da filha da vizinha. resulta que a mãe da menina tomou um porre com o tio das bicis na noite anterior. e sem que a tia das bicis participasse da festa.
- "mi madre tiene 40 años, no es una vieja como tu! vieja! si dices algo más de mi madre, te pego! te voy a pegar!"
com o gato se enroscando nas pernas, a tia das bicis, que é uma andaluza aloirada e risonha, que deve ter por aí seus 68, entra fechando a porta, mas não sem antes responder pra toda a rua: "cuarenta en cada una de las piernas!" e pra dentro de casa: "mira con quien se mete este hombre. si me pega le voy a denuciar e esa tía. y tu que no andes dandole caña a cualquiera." mas o clima só ficou tenso mesmo depois que eu saí e que a porta se fechou pela segunda vez.
na rua, o irmão da dona da banca de revistas, que reconheceu o jorge e aproveitou para ver a confusão de perto, tentava nos consolar: "isso aqui é o bronx". seguimos por um caminho novo, por dentro do bairro.
detalhe: não somos habitués da banca de revistas. só vamos lá com regularidade aos domingos, e desde este último mês, para comprar o todo almodóvar que vem com o el país. isso é a barceloneta.
o xesco tinha uma amiga, ou melhor, colega de trabalho, que morava aqui. era casada com um anadaluz, desses que se dizem de la barceloneta de toda la vida. quando vinha acompanhá-la até aqui, não estava autorizado - pela amiga - a entrar no bairro: "es que la gente habla demasiado".