Num dia da semana passada ficamos sem gás, ou seja, sem banho. Sem cozinha. Minha cabeça fala comigo e eu chego a ouvir o som de sino dos paquis que vendem gás. Aqui eles passam cada dia de manhã e de tarde batendo com uma colher nas bombonas, que então soam a sino. Alarme falso. Descubro depois de baixar correndo o meio lance que me separa da rua e andar ao redor da quadra buscando. Nada. Ligo pra quem usa gás de bombona tentando descobrir se há alternativa de onde comprar. Não há, como se supunha. Por não seguir minha intuição receberemos uma visita do dono do apartamento. No desespero, liguei até pro Javi, que mora no mesmo prédio quatro andares pra cima. E agora espero ouvindo Tomatito, vendo fotos e tentando manter a calma. Nada a ver com a visita. Espero que alguém me solucione o que não pude. Odeio essa sensação de incapacidade para solucionar pequenos problemas domésticos. Gera uma dependência e toda dependência é incômoda. As mãos ficam frias, sinto meus cheiros, tenho vontade de tomar um banho e me meter embaixo das cobertas. Tenho sono e um pouco de tristeza desubicada. Minha carga horária de trabalho se reduziu de 8 para 4 horas e de pé para sentada. Os pés ficam mais frios. Acho que é normal esse estranhamento. Essa não vontade. É normal, sim. E ai de quem me contrariar! Ainda mais num dia que começou assim: sem gás.
Dou voltas em mim mesma. O computador insiste no modo de segurança. Esfria, a noite chega mais tarde, às 6. Acendo luzes, apago outras. Esquento a comida no forno elétrico e espero. Espero que o computador funcione no modo que deve, que o gás venha de algum lado, que Jorge chegue pra eu poder falar, que o Javi desista de aparecer, que eu possa tomar banho e me livrar dessa neurose.