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lørdag, april 02, 2005

you got to beleive in something
o nosso principal é o primeiro para quem sobe a escada. isso significa que sempre batem aqui: os meninos cantando músicas de natal com pandeiro, o vizinho bebum pedindo dinheiro para o táxi, as monjas de uma congregação francesa pedindo comida. enquato preparo uma sacola de frutas - sorte delas que hoje pela manhã fui ao mercado - respondo pela saúde do papa dizendo que acho que se murió. foi o que entendi pela rádio. mas não estou segura, insisti. sorridentes apesar da notícia (ainda que falsa), me convidaram para as orações dessa noite na igreja sant jaume. disse que talvez e pensei, quizás: essas monjas estão tão felizes nas suas roupas azuis.

recursos escassos fazem com que uno pense em deixar de acreditar. até perceber que a lo mejor seja justamente essa a única coisa que pode provocar algo realmente verdadeiro. norah jones canta sunrise nesse momento, e a casualidade me faz acreditar em alguma coisa de novo.

o comentário de eva depois do nosso segundo informativo: como estavamos espessas hoje! a expressão me soou como "espumosas", e foi assim que traduzi. o calor agoviante do estúdio e o nosso despreparo e os montes de cigarros que fumei me faziam sentir espessa como a espuma de um rio poluído. talvez por isso hoje tenha me despertado lenta e mais preguiçosa que em outros dias.

sim, às vezes é preciso coragem para sair da cama. mas os dias nunca acabam como começam.

saímos tarde e o cheiro do esgoto na porta de casa me provocou náuseas. a cabeça doía e o dia estava mais espesso que eu e eva ontem. pagamos para recuperar minha bici, e não conseguíamos pensar em outra coisa que não fosse como passaremos com as contas desse mês, sem falar nas dos próximos. falamos de outras coisas. no caminho notamos que os preços de frutas e verduras tinham baixado. um sinal de que a primavera chegou. jorge tomou seu rumo desanimado por não haver terminado suas pinturas e eu me demorei um pouco mais recolhendo a roupa antes da chuva. decidi encher a geladeira com compras no bairro, mais prático do que ir até a boqueria. a praça do mercado está semi aberta, e os bancos cheios de velhos e loucos comprovam que a vida do bairro está ali, de novo. os gitanos que se mudaram para debaixo da ponte ao lado do estádio se misturavam ao público que tomava as ruas nessa manhã branca. entrei no mercado, que ainda é provisório, e constatei preços ainda mais baixos que na carme miranda. gastei pouco mais de cinco euros em quase 10 quilos de verduras e legumes, e passei pela fruteira para mais uns três quilos de frutas. fazendo as contas, não gastei nove euros, o mesmo que gastaria na boqueria, e isso me deixou um pouco mais feliz. não trouxe morangos - ainda não estão doces o suficiente - e agora me dou conta de que esqueci do perejill e do limão, ingredientes fundamentais para o risotto de açafrão que comemos ontem outra vez.

os gitanos me lembram uma notícia de ontem no 20 minutos: o serviço social do carmel está tratando um caso de síndrome de diógenes, uma doença que se caracteriza, entre outras coisas, por la acumulación de basura en el interior de la propia vivienda. os gitanos viviam assim antes: eram 10 pessoas, da abuelita ao bebito de cinco meses, em um térreo de 20 metros quadrados atrolhado de lixo e restos de tudo o que encontravam pela rua. havia tão pouco espaço que eles passavam a maior parte do tempo reunidos na porta da casa. até que los echaron de ahí, e nunca vi nenhum serviço social tratando a sua síndrome, que nesse caso deve ser coletiva. na semana passada ubicamos sua nova morada, como disse abtes, na passarela ao lado do estadio o f.c. barceloneta. um pouco mais adiante topamos com uma senhora russa - que pode ser polaca ou búlgara ou úngara - sentada no chão, no meio do caminho. nos chamou com dificuldade, e articulando mais gestos do que palavras finalmente conseguiu nos fazer entender: jesús, llamad a jesús, por favor. demoramos alguns segundos ainda para compreender que ela tinha machucado o pé e não conseguia caminhar sem ajuda. seu companheiro se chamava jesús e estava em casa, um barraco improvisado com caixas de papelão embaixo do viaduto que corta a ronda litoral, do outro lado de onde nos encontrávamos. com o barulho dos carros que cruzam pelos dois lados, jesús só nos ouviu quando jorge quase tocou no seu ombro.

encarna voltou de berlim e se surpreendeu com os preços. o relato da sua viagem pode ser resumido na constatação de que a espanha é hoje o país mais caro da europa: ganha-se menos e se paga o mesmo ou mais que na alemanha pelos morangos produzidos aqui em huesca, ou pela vivenda de melhor qualidade, e também pelo transporte.

encarna é jurista e dirigiu um trabalho sobre a integração de mulheres presas na cataluña, a parte espanhola de uma investigação realizada em seis países europeus. noelia e marta nos deram uma entrevista sobre o informe. entre outras coisas, se constatou que a alemanha é o país com os melhores exemplos de um tratamento humano com a miséria das prisões, comprovando que a idéia de um estado de bem estar social ainda resiste, ainda que esteja indo por água a baixo com a união européia.

o processo de bologna, que promove a integração das universidades européias, é uma amostra alarmante da perversa relação que se estabeleceu entre estado e sociedade mediada pela tecnologia da informação. vão reduzir o tempo de estudos nas carreiras universitárias para garantir uma especialização de um número mínimo de gente capaz de preencher os poucos postos de trabalho especializado que são criados hoje em dia. se constatou que os estados gastam muito dinheiro com a formação de gente que depois tem que ganhar a vida trabalhando em pizzas huts e mc donald´s. para esses, dois anos numa faculdade já é o suficiente para que ninguém perca direitos adquiridos. para ir além disso, só pagando. é uma adiós ao pensamento crítico.

escrevi demais. jorge abre a porta e o meu estômago pede comida.



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