barcelona amanheceu branca. é a primeira vez em dois anos, o que sigifica que é todo um acontecimento. a probabilidade é que siga assim até amanhã. as montanhas (200 m) da cidade, incluindo o montjuic, ficaram branquinhos.
conforme previsto, a casa se encheu na sexta-feira . e nosotros nos llenamos de vinho e conversas postas sobre a mesa, na cozinha, no corredor. hoje tudo volta ao normal e o sol invita a um paseíto.
before, "here is a kiss":
the pattern of life in ithaca - of people everywhere in the world - followed a design wich at first seemed senseless and crazy, but as the days and nights gathered together as months and years, the pattern was seen to have had beaty of form. the line of ugliness had been clothed in grace by the line of charity. the force of brutality had been tempered and sweetened by the greater force of gentility. the evil colour of wrong had been lost in the bright colour of right, and together they had become a colour more beautiful than the colour of right alone.
the human comedy, chapter xxxiv, pg 195. william saroyan, 1943.
antes de sair correndo para mais un partido barça x chelsea (2 x 1), miquel domènech concluiu uma aula questionando a lógica do empobrecimento na sociedade do conhecimento. como pode, perguntava ele, que tenham a cara de pau de dizer que o sistema de bem estar social faliu? a aula, para situar, era sobre como o discurso científico é também político, e segundo o debate que vai nessa linha, reformular um é, ou deveria ser, reformular o outro. a pergunta vinha nesse contexto: a falência como explicação científica para uma causa política. e, nesse caso, a economia não dá conta da explicação: afinal - vide o ¡què! de hoje - a espanha é um país que consome mais e, segundo os "estudos científicos", consome melhor - sim, mais E melhor. a economia cresceu, e os ídices de consumo idem. mas ninguém contou que a precariedade também. depois do euro, que enriqueceu o estado, a população da espanha ficou mais pobre, sim. a flexibilização do trabalho - 90% dos contratos firmados nos dois últimos anos são temporais - evidencia o fosso. nessa denúncia, os precários se unem aos imigrantes, demonstrando que a pobreza é interna. e política.
na ola do consumo, ser europeu é o máximo a que os espanhóis aspiram. o sim à constituição européia foi rotundo, e as minhas previsões faliram.
ojalá é uma palavra linda. eu, pelo menos, adoro, e estou ojalando siempre que puedo.
faz um frio de congelar a ponta dos dedos das mãos e dos pés e os fios doscabelos também. os relógios lá fora devem marcar seus 8 graus de sempre, e aqui dentro estaremos a uns 15 sem o aquecedor. é frio.
a radio paca ainda não está no ar. mas será uma rádio de mulheres online a partir do dia 8 de março, ubicada em www.radiopaca.org. terá música brasileira, sim senhor, e também alguma que outra entrevista com sotaque. sábado daremos uma palinha na rádio da ravalnet, i guess. www.ravalnet.org.
se sou feminista não sei. lá no fundo acho que é uma coisa inevitável. ainda mais quando os acasos nos levam a militar.
recebo notícias do lado de lá. amigos remotos encontrados via orkut, vidas narradas por e-mail, com direito a fotos e tudo.
do lado de cá informo: casamos dia 4 de março em vallirana. lá faz mais frio que aqui, mas fica mais perto do verde e das montanhas. conhecemos a cidade ontem, e em dois minutos.
nada como um dia que começa mal e vai terminando bem. a vontade de manhã era de não sair da cama. o frio e todo o enfrentamiento da vida se hacen pesados a veces. e o dia começa: subo até a plaça catalunya em bici, ouço o gaucho que todas as manhãs dá seu show na entrada do trem, chego com o atraso típico de meia hora, em outra meia hora organizo as pendências que sempre ficam de um dia pro outro, me ponho a fazer nada e a atender os estudantes com seus problemas - minha solução é sempre dizer a eles que não existe problema, e eles acreditam a saem felizes. pra voltar dias depois com outras dudas e problemas, pero, enfim. a burocracia se vale da ilusão de que tudo vai bem e às vezes isso funciona. preparo minha aulinha de yoga, arrumo a sala, com o frio aparecem poucos alunos, a maioria deles mais interessada que nas primeiras aulas. a essa altura a fome me come e eu baixo pra ver amarela rir sua risada de irene e comerme un bocata de tortilla. de novo no andem, a chuva agora cai fina, mas eu já me sinto capaz de sorrir. e aparece cibele, e a conversa gira em torno das nossas mazelas rizíveis - não hay problema, me digo pensando em todos os problemas que construí de manhã ao acordar. e na saída maya, também na mesma de sem beca, e que se tiene que ir a bulgária, e quando vejo já estou me oferecendo para prestar ajuda com documentos. pego a bici, deixo a bici, entrego o md na rádio paca - em breve, mais informações -, aproveito pra faezr uma ligação e invento um caminho novo. o frio até que está agradável, mas nada como chegar em casa em cinco minutos e tirar a roupa úmida e ligar a rádio e um incenso e ler um bilhete de amor.
o joaquim organizou uma mostra de arte contemporânea mexicana no kültur büro barcelona . batizada será melón, será sandia, boa parte da expo está centrada na cultura alter de tijuana, e é legal ver como ali a arte e os meios se fundem em coletivos teóricos que discutem, fazendo, coisas como hibridación cultural, fronteiras e espaço público. hoje a diversão será a cargo do nor-tec no la paloma.
tá explicado: a espanha é o único país da união européia que oferece uma magistratura de detetive privado. é que sempre nos chamou a atenção a quantidade de escritórios espalhados pela cidade. o tema é tratado no ¡qué! de hoje, com a profundidade que um periódico gratuito distribuído no metro permite e na medida do espaço deixado pela tragédia do carmel. diz lá que apenas 20% são contratos para casos de família - a maioria é de empresas interessadas em saber sobre a vida privada do seus diretivos. dos familiares, 70% são pais que pedem para vigilar seus filhos.
lançado no mês passado em barcelona, o jornal ¡qué! disponibiliza uma ferramenta para publicar blogs e divulga, diariamente, uma lista dos blogs mais lidos. entre os mais visitados figura sempre o da russa. e isso que ela não corresponde ao estereotipo de russa vendido por aqui.
tragédias na esquina ou das coisas que também acontecem em barcelona
o carmel já foi um bairro mais marginal do que é hoje. localizado no fundo da cidade, ao lado do parque güel, deixou de ser um bairro só de gitanos em função da imigração espanhola estimulada por franco nos anos 60, 70. é um bairro hermoso, no qual eu moraria se tivesse uma moto - ok, prefiro a parte baixa de barcelona, não adianta. enfim, é um bairro de classe média, mais ou menos como a minha barceloneta, mas na montanha, digamos. eis que por aí passará a nova linha de metrô da cidade, uma obra monumental, milionária e tal. há umas duas semanas, em função das obras, um edifício começou a despencar. antes que alguém se ferisse, evacuaram o prédio e no dia seguinte os jornais estampavam cenas do edifício semi-tumbado e dos restos das vidas 400 pessoas. um sofá vermelho, estantes de livros, a mesa da sala, e escombros, e mais escombros. o tunel foi tapado, mas o tema não teve um ponto final. queriam alojar as pessoas no bairro vizinho, em edifícios protegidos. mas a comissão dos vizinhos do bairro de ao lado não aceita que tirem viviendas que deveriam ser destinadas a pessoas dali. há mais prédios ameaçados, por supuesto, e veio à tona também todo o incômodo que uma obra dessa envergadura provoca na população: ruidos além da conta e fora da hora, sujeira idem, e a possibilidade de que se percam todas as fotos, documentos, e nem falemos em vidas. com todo o transtorno, as pessoas se vêem obrigadas a levar uma vida normal.
tenho um três em um no cabelo. made in zaragoza, por uma dessas casualidades do ofício. em partes, está mais curto, bem mais do que eu poderia ter imaginado. em outras está negro, e no meio, rojo intenso, mais precisamente levo um magma 47 no topo da cabeça. os 80 revisitados por um zaragUzano.
em breve, efetuarei o único cambio possível: tinta preta em tudo.
foram dois dias de primavera em pleno inverno. mas acabou. hoje tramontana soprou una mica por aqui, trazendo de novo o frio. sem chuva, eso si, con lo cual poderemos lavar a roupa suja acumulada em praticamente duas semanas. se der tempo.
"everything is changed, for you. but it is still the same, too. the loneliness you feel has come to you because you are no longer a child. but the hole world has always been full of that loneliness. the loneliness does not come from the war. the war did not make it. it was the loneliness that made the war. it was the despair in all things for no longer having in them the grace of god. we´ll stay together. we´ll not change too much. (...) what did you have for supper?"
the human comedy (william saroyan, 1943) é o livro para adolescentes que adultos deveriam ler - ou reler - de vez em quando. filho de imigrantes armenos nascido na califórnia, o cara conseguiu fazer uma leitura da consolidação da idéia de américa como poucos americanos. disse coisas que, na boca de um filho de imigrantes, devem molestar tipos como hungtinton .
o livro é dedicado a saroyan pai, que não lia inglês: soon, i hope, someone will transale the story into armenian, so that it will be in print you know well. in translation the story may read better than it does in english, and, as you have done before, maybe you will want to read some of it to me, even though i wrote the stuff in the first place.
eu preciso parar de fumar. ya. pero mesmo com a tosse de toda a noite e com a reportagem de hoje sobre mais uma doença respiratória mortal causada pelo tabaco e com toda a minha hiponcondria, no puedo.
a junta eleitoral na catalunya negou o permiso para a manifestação contra a constituição européia, convocada para o dia 12. pero estão confirmadas a cacerolada, as jornadas e a tradicional butifarrada.
a agenda de manifestações contra a constituição européia começa dia 11. nesse dia em barcelona desembarcam os chefes de vários estados europeus para um mítin. se prevê uma recepção, mientras em madrid haverá concentração e show na plaza callao. no dia 12, a manifestação estatal será aqui. a mobilização parece que vai lenta, mas vai.
alguma coisa pra me mantener despierta, siusplau. el punto es el champan de ayer. me gusta más decir cham-pán que cava, mas era cava e não champan lo que bebimos na champanheria a partir das sete e até fechar. e como fecha cedo, às 11 já estávamos no jamboree carimbando a mão para voltar quando a jam tivesse acabado. ou quase, porque ainda pegamos uma música. não tem um porquê, na verdade, acho que simplesmente porque era segunda-feira e o rafa queria jogar sinuca no clube de pipa. e era a despedida do rafa. e a mariba está aqui. e era segunda-feira depois de um final de semana que começou bem e terminou tranqüilo.
o clube dos usuários de pipas - i mean cachimbos - é um desses apartamentos da plaza reial que virou bar. está numa primeira planta e além da mesa de sinuca, tem uma barra, mesinhas e um mini palco, e caixas e latas de tabacco, por supuesto, decoram as paredes que viraram vitrines.
rafa se foi hoje, buscarse la vida nos mares de francia. voltará no verão, diz ele, já que como barcelona não há. tenho ouvido essa frase com recorrência e variações ultimamente. e estou me convencendo. é mais forte do que eu pensava.
a constituição européia vai ouvir um não em barcelona no referendo do dia 20. partidários e não partidários da abertura que fecha fronteiras estarão juntos com motivos diferentes. nesse momento o que importa é dizer não.
terminou ontem a exposição la dona, metamorfosi de la modernitat, na fundação miró. tendo como ponto de partida os anos 20, a mostra apresentava obras de homens e mulheres, e o pano de fundo era, é óbvio, a identidade feminina na arte - desde si e desde os outros. cinco itens marcavam o recorrido - autorrepresentação com máscara e identidade sexuada, redução do outro-mulher em um mundo masculino, o arquétipo feminino: contracultura e integração das origens no presente, o nu feminino ou o prazer de criar, a arte em busca de um imaginário feminino. sim, acho que todos os grandes - em masculino e feminino - estavam ali.
das frases espalhadas em meio a pinturas, esculturas e instalações, fiquei com duas, ambas de homens:
miró: lo que denomino mujer no es la creatura mujer. es un universo. picasso: no hi ha diferència entre el arte i el erotisme.
e um terceiro homem sintetizou, para mim, o universo que viu miró e o erotismo que impregnava picasso: sanyu pinta a mulher como um universo erótico. suspenso sobre sedas chinesas, seu desenho é transparente, óleo e aquarela e nankin.
jonathan hay escreveu sobre ele para uma mostra no musée des arts asiatiques guimet: a cosmopolitan from first to last, sanyu never felt the need to conceal his chinese sensibility, taking the heterogeneity of of his identity as given. his is the rare practice of painting that approaches visualization of a truly intercultural belonging, for few artists have been so comfortable in their attachment to the in-between.
pra me agradar desse jeito só podia ser um sujeito que construiu sua identidade desfrutando conscientemente da alteridade.
a espanha tem hoje mais de um milhão e meio de imigrantes sem papéis - ou ilegais, se se prefere utilizar os termos da lei. anunciado em junho do ano passado, depois de uma série de manifestações - mayday, encierros na catedral de barcelona e na igreja do pi, para ficar só em barcelona -, o processo de regularização que começa na segunda-feira, dia sete de fevereiro, tem tudo para se converter em um caos. um marron de los gordos, desses que respingam para todos os lados. a ver:
em linhas gerais, a regularização vai permitir que se oferte trabalho a pessoas que levam mais de oito meses vivendo na espanha sem autorização - coisa que pode ser comprovada com um certificado do empadronamento municipal, direito de todos os que estão aqui e podem comprovar um endereço, sejam legais ou não perante a lei. o processo para encaminhar o pedido do permisso de residência depende, portanto, de que alguém ou alguma empresa ofereça o trabalho.
pois ontem, uma quinta-feira, ou seja, dois dias úteis antes do início do procedimento, o governo espanhol publicou um acordo ministerial para regular pontos conflitivos. diz a ordem que:
1) a entrega dos documentos deve ser feita pelo empregador, exceto nos casos de emprego doméstico
2) a empresa não pode ter dívidas com a seguridade social ou com o tesouro da espanha
3) todos os candidatos a um emprego devem apresentar uma ficha de antecedentes penais. equatorianos e colombianos podem solicitar essa ficha nas suas embaixadas na espanha. nacionais de todos os demais países devem pedir a ficha nos seus países de origem, legalizar junto ao ministério da espanha aí, e, se for o caso, traduzir o documento ao espanhol por um tradutor juramentado na espanha. o carimbo juramentado tem um custo de 12 euros por página.
4)o certificado de empadronamento não é o que estamos acostumados: é um que nunca ninguém tinha visto, onde conste o histórico domiciliar da pessoa. prazo: 15 diass úteis. custo: 20 euros.o contrário do "normal" é grátis e sai na hora.
5)o horário de funcionamento das oficinas que encaminham a regularização será de três horas diárias de segunda a quinta-feira. ou seja, 12 horas na semana.
6)uma vez aceita a proposta de trabalho, o empregador tem 1 mês para começar a contribuir com a seguridade social do novo empregado.
a discriminação é evidente. equatorianos e colombianos compões a maioria imigrante na espanha, mas logo depois deles estão os paquistaneses. os primeiros não terão muitos problemas, nem para conseguir a ficha de antecedentes penais, nem para encaminhar de forma mais fácil os papéis, já que é sabido que o trabalho que realizam aqui é, em geral, doméstico. já os paquistanes, quando não são entregadores de gás, são donos de ou trabalham em locutórios de conterrâneos. e locutórios paquis são, especialmente depois do 11 de março, negócios suspeitos. para complicar um poquinho mais, conseguir uma lista de antecedentes penais no paquistão não é assim. e são 20 mil paquis só em barcelona. pior ainda para os nepaleses.
a sala metrònom é uma das galerias de arte contemporânea mais badaladas de barcelona. até sábado, com entrada gratuita, é o palco para a setmana internacional de música experimental. estivemos ali ontem e pegamos o finalzinho da apresentação do duo inglês amm . john tilbury (piano) e eddie prévost (percussão) fazem performance mais que música, para o meu gosto. e, para variar, meus olhos estiveram mais atentos que os ouvidos. prévost toca um tambor japonês, e por trás dele uma japonesa linda pegava no sono. com cabelos extremamente encrespados e vestida de laranja, não era parte da apresentação, mas me chamou mais atenção que a música. e depois tinha o espaço, o teto com o vitral ovalado e as outras pessoas que, como nós, não sabiam a hora exata de aplaudir o fim do espetáculo. gravei alguma coisa, mas a baixa qualidade do meu aparatito nuevo fez do experimentalismo algo inaudível.