na rádio 3, flávia n., coreógrafa e percussionista brasileira, dava entrevista. era entrecortada por uma espanhola e uma catalana, ambas "brasilianistas": a daqui, casada com um maranhense, é autora d eum livro sobre lula; a de madrid, de quem não tenho referèncias pessoais, é autora de um documentário sobre o brasil dos sem terra. juan pablo silvestre, apresentador do programa babel, marco do encontro, é um aficionado: numa seleção para um outro programa da mesma rádio nacional de espanha escolheu paulinho da viola como seu embaixador. num determinado momento, falou de mezcla: argumentava que aí está o segredo do povo brasileiro. "si todos fuéramos una mezcla, el mundo sería mejor", pontuou outro dos participantes, pep valenzuela.
durante duas horas, os convidados discutiram com base na pergunta "¿Donde vas Lula?.... esa es la pregunta que se hace medio mundo y a la que trataremos de responder en esta edición especial de Mundo Babel." no dia das eleições municipais, o programa viajou ao "Brasil, el gigante que despierta de un largo sueño de corrupción, pobreza y violencia. Un viaje por la realidad y por el sueño de la mano de periodistas y escritores que lo han vivido in situ como Ana Tortajada y Pep Valenzuela o grupos como Cara de Fuego, españoles que sienten la energía de su última música. Y, naturalmente, con la presencia de brasileños afincados en España como Flavia-N, coreografa, cantante, percusionista y organizadora del I Festival Terra Brasilis que se celebra este fin de semana en Madrid. Como es habitual, la música en directo, en esta ocasión brasileña, completa esta oferta de alto contenido astral."
antes de começar, alguns apuntes sobre as coisas óbvias desse comentário: 1) a televisão brasileira já é vista por aquí desde dancing days, 2) o brasil esteve de moda durante todo o verão ?a ver como sobreviverá ao inverno, mas tudo indica que as chances são grandes e 3) não tenho televisão em casa. ao comentário, pois:
é inevitável relacionar a transmissão da casa das sete mulheres ? tv3, de segunda a sexta às 12h30, com repetições às 2 da madrugada ? com as relações de semelhança ? e diferença ? entre a catalunya e o rio grande do sul, principalmente no que diz respeito à formação identitária.
a revolução farroupilha foi larga e motivada economicamente segundo consta; aqui a guerra começou e terminou em 1714 com catalunya politicamente dominda pelos espanhóis. no fundo no fundo, no entanto, a guerra gaúcha e a catalã têm, historicamente, uma leitura parecida: ambas foram batalhas que marcaram, no seu momento, uma afirmação de identidades ? com todas as contradições que isso implica.
quando começou a feira das culturas, com carlinhos brown na passarela, eu pensei com meus botões que a lo mejor é isso que a catalunya quer: se parecer com o brasil. com o brasil do carlinhos brown que faz festa, mas também ação social ? vide o milagre de candeal, com pré-estréia no final do fórum - , com o brasil das lutas de classes do pt (estrela certa nos eventos socialistas destes pagos), com o brasil das mesclas étnicas que se dão no marco de encontro de culturas ? e não de guetização. a emissão da casa das seteme mulheres só reforça a intuição:
?És un relat èpic que té la guerra i les passions com a principals motors, i la seva bellesa prové del valor històric i de la humanitat dels personatges. A més, la minisèrie suscita qüestions com la formació ètnica, cultural i geogràfica de Rio Grande do Sul i la mateixa formació del Brasil i el paper de les dones en el conflicte, moltes de les quals es van convertir en les reals administradores de l'economia domèstica, segons confirmen documents històrics diversos. ?
acho que fica explicado porque a tv3 apostou nessa produção que, apesar da audiência de 53 pontos de audiência no brasil, dificilmente chegará à metade em barcelona.
começou há pouco o artfutura. o tema da décima quinta edição desse multievento que promete unir barcelona e montreal numa festa no sábado é a realidade aumentada. granada, madrid, valladolid, pamplona, san sebastián e vigo terão projeções en directo, e pela internet se pode acompanhar algumas das conferencias. hoje às oito howard rheingold fala sobre smartmobs.
a maior expectativa paira sobre o coletivo britânico the blast theory que apresentará o jogo - também chamado de performance interativa - "can you see me now?". o mote, uma vez mais, é a tecnologia de telefonia móvil. se você quiser, pode participar do jogo de casa desde aqui.
e no entremeio tem a exposição sobre cortázar, que deve acabar logo. são fotos, slides, cartas e objetos pessoais que aurora bernardéz emprestou ao cccb.
cesaria évora canta na radio 3. dá um ar de continuidade da festa dos vizinhos equatorianos que durou a noite inteira, e curisamente nos deixou dormir. ébrios, amanheceram bailando.
odyr foi ao iraq e descobriu o bom humor que pesa com a guerra. vale a pena conferir baghdad burning.
penso se é possível situar a assimetria escandalosamente forçada no irak dentro de uma perspectiva cultural, en el punto en que "la reflexión filosófica sobre la interculturalidad (no entendida en primera instancia como teoría, sino como dinámica social), nos encamine a la reflexicón sobre las condiciones ético-políticas que permitan o no, su concreción socio-histórica en la conformación de un espacio público que permita minimizar la carga negativa que los procesos interculturales, identidad-diferecia, igualdad-desigualdad y conexión-desconexión, conllevan en sociedades asimétricas." não tem interrogação, mas para mim ainda é uma pergunta.
de repente o vazio. a tranqüilidade que dá pensar que pelo menos utopicamente o vazio existe. mientras tanto seguimos vivendo o caos em todas suas limitações. ando a gostar da idéia de fronteira como lugar para onde convergem nossas convicções cartesianas. o bom sera que se desfizessem também, mas aí acho que o caos seria insuportável. inabitável. atualmente penso nas fronteiras como espaços de conexão e desconexão. não sei quanto tempo durará a teoria a partir do momento em que comece a observar na prática o que isso realmente significa. se é que significa realmente.
leituras mínimas. deleuze e spinoza me deixaram imobilizada: não pude avançar e pensei que havia perdido o fio da meada. acho que simplesmente tenho que admitir que é demasiado para esse momento.
hay momentos de estress e momentos de relax. ontem passei de um a outro sem me dar conta. como o alcohol funciona bem para essas passagens. mais uma vez, o cenário foi a xampanyeria.
em espanhol você não se despede de alguém: simplesmente despede alguém. soa raro: despedimos o guto e gra hoje pela manhã. fui até a porta do trem, praticamente. fiz o mesmo com a karen na sexta e com a marina no domingo, só que a marina ia de ônibus que sai da porta de casa.
entre uma crise e outra, conheço marc augé. mais um desses velhinhos fabulosos que conseguem ser intelectuaias não fumantes. na primeira ocasião, ouvi uma exposição sobre a sobremodernidade, baseada no último livro dele lançado na espanha. por que vivemos é um título que não engana: auto-ajuda antropológica. a pretensão dele não é nenhuma outra que o resgate da utopia, e pela via da educação. diz a resenha: "si en las sociedades africanas el individuo aparece integrado y determinado en todos sus aspectos físicos y mentales, el individuo occidental moderno está aún más controlado. ante la falta de sentido en un mundo desencantado sacrifica su libertad de decisión a la seguridad de estar entretenido, a las promesas de comodidad y satisfacción que ocultan las verdaderas opciones. marc augé inisiste en que estas promesas de satisfacción extinguen todo lo que la vida podría darnos en el espacion humano privilegiado del deseo de conocer e investigar, de la amistad y de la solidaridad."
no segundo encontro, nos deu sua visão antropológica sobre o suposto fim da história: é a sistematização da história, o rechaço às mudanças, a aceitação de que não há nada além ou aquém do Sistema. em uma palavra: fundamentalismo. não é à toa que a desconfiança é cada vez mais pesada, pelo menos nos países onde o diferente vai do sudaca que fala quase a mesma língua ao muçulmano, africano, chinês, paquistanês que nem entendem a mesma língua - e, o que é pior, não estão de passagem. o que está fora não pode existir porque fundamentalmente só existe o que está dentro. por isso dar papeles para todos é tão mais assustador do que deixar que morram nas pateras.