ontem aa noite se respirava um pouco melhor em barcelona: o povo espanhol teve coragem de dizer nao ao terrorismo de estado demitindo o partido popular que governou o pais por oito anos. ojala o tempo revele um partido socialista capaz. nao esquecamos: nao houve vitoria nessas turbulentas eleicoes. nao para o psoe.
se houve alguem que ganhou, esse foi josep carod-rovira, o separatista catalao que tentam confundir com o eta. ele ganhou nao so na catalunya. a representacao da esquerra republicana catalana (erc) no parlamento espanhol passou de 1 para 8 deputados, dois a mais que o numero de representantes da direita nacionalista do convergencia i unio (ciu). com esse resultado erc eh hoje a quarta maior representacao parlamentar na espanha, logo depois do ciu. ou seja: a catalunya eh a unica comunidade autonoma com uma representacao polarizada no parlamento. bascos e galegos estao la sim, com um representante cada. por um lado, parece que o nacionalismo no modelo catalao saiu reforcado.
mas sempre ha um mas. e eis que os catalanes nunca acreditaram que a espanha, aquela que danca flamenco e esta representada pela andaluzia, e mesmo a galicia, aquela que elegeu o pp depois do prestige, poderia chegar ao ponto de dizer esse rotundo nao ao fascismo. a eleicoes de ontem supreenderam, e surpreenderam principalmente os ceticos como os catalaes, o que pode fazer pensar (o nosso por outro lado) que a espanha agora pode se ver mais unida.
o paradoxo e favoravel, diria o i ching. e a historia confirma. em 1714 a nobreza catala se aliou, via coroa de aragon, a castilla. o mediterraneo nao era mais uma potencia comercial capaz de manter um reino e, do ponto de vista de quem mandava, era melhor fazer parte do reino onde o sol nunca se poe. estava formada a espanha, uma espanha de nobres e cavaleiros, potencia mundial no seu momento. e naquele momento, situado em algum ponto entre entre o renascimento e o modernismo, o catalao ( e o catalanismo) nao era resistencia. simplesmente nao havia identificacao entre povo e nobreza e nem a intencao de que isso acontecesse. os pagesos que continuassem pagesos, com sua lingua e seus costumes. segundo alguns, para esses catalaes a catalunya estava orfan de governo. o vazio politico esteve a ponto de ser preenchido nos anos 30, quando barcelona era o centro industrial espanhol. a quase revolucao proletaria que estava a punto foi frustrada pelo golpe militar que matou luis company e levou franco ao poder e a espanha a uma ditadura por mais de 35 anos. proibido, o catalao virou simbolo de resistencia cultural. para a esquerra republicana, o vazio politico voltou a ser uma possibilidade depois da morte de franco. passa que o ciu, a direita nacionalista, se manteve no poder por mais 25 anos. saiu no ano passado, deixando nas maos da esquerra a decisao.
como parte de governo tripartite de esquerda, erc se mostrou mais capaz do que se pensava. e outra vez o paradoxo. uma conversa com os lideres do eta, espionada pelo governo e revelada pela maior parte da imprensa como algo bruto, feio e condenavel, liberou rovira do governo para concorrer as eleicoes nacionais e gerou a campanha mais coerente com os fatos que maracaram a "disputa" eleitoral: falando a gente se entende, era o lema da erc.