[ainda da noite passada]
A dureza da escrita, siempre esta dureza que me persegue e me esgana e me faz arrancar os cabelos. Sem ela, dá igual: os cabelos caem por si. Sinto falta de teoria no que digo, sinto falta de ação no que faço. Estou em crise: o brasil com lula lá e eu aqui, na espanha de aznar y berlusconi (eles dividem o poder dos meios de comunicação, o sea...). em certa medida, isso tudo justifica meu sono: la realidad, sea donde fuera, es siempre la dura realidad.
Please don’t let me be misunderstood [escrito no dia 29/12/2002 aí pelas 3h]
Entre leituras desordenadas, descubro o log-book da rayuela (não, não está na rede) e uma breve história da fenomenologia. E surgem tantas idéias novas e velhas, passado e futuro, e me dou conta de que saí do Brasil no melhor momento para estar lá – ou aí. Que me desculpem os que estão passados com todo esto de la máfia do dendê – y hay también que considerar que todo parece mejor cuando estamos lejos. Mas a leitura do editorial do Mino Carta, com o atraso de uma semana que me permito – sim, apesar da internet – me deu uma certa mágoa de não estar no Brasil nesse “epílogo” histórico.
Bueno, e se eu resolvesse assumir uma nova identidade? As coisas ficariam ainda piores: perante o governo de Aznar, sou hoje uma italiana, o que significa ter um país governado por el amigo Berlusconi... Não, não, não, não, não. Não vou chorar. Mas como dizem uns amigos, me pongo a pensar. Penso logo existo – ou seria existo logo penso?
não é só na españa que o touro tem um papel de destaque na tradição ou no imaginário da cultura popular. em todo o mediterráneo - e isso ultrapassa as fronteiras da europa -, seu culto é disseminado há pelos menos 6 mil anos: en las lenguas semitas, como el árabe o el hebreo, era el aleph: el todo, el primer sonido del nombre de diós. alá - simbolizado por un toro - o yahué. as mais diversas representações do deus touro - em pequenas estátuas persas, miniaturas de bronze e barro gregas e romanas, selos em mármore, vasos e potes - estão expostas na mostra toros. imagén i culto en el mediterràneo antic, em cartaz até março no museu de història de la ciutat e no livro que leva o mesmo nome.
dias de ter idéias, de andar pra cima e pra baixo, de sair de casa cedo e voltar tarde. dias de não parar. dias de noites longas. dias de inverno. dias de sol.
pela christa, descobri que walter benjamin morreu em portbou, uma prainha na fronteira da catalunya espanhola com a francesa. tem um monumento em sua homenagem lá, e em breve, terá um museu. nada mal passar uns dias em portbou, durante o verão, tentando entender a obra de arte na era da reprodutibilidade...
caminhamos pelas ruas olhando pra cima, buscando e encontrando números de telefone em carteles que digam es lloga pis, piso en alquiler, se alquila piso e todas as variantes possíveis para a possobilidade de se encontrar um apartamento para alugar em barcelona. pendurada no telefone, ouço muitas vezes dizerem que o piso dos nossos sonhos, com o preço um pouco acima das expectativas, já está alugado. tudo bem: estava num andar muito baixo.
burocracia espanhola estimula a ilegalidade
conheço pelo menos três pessoas - latinoamericanos, diga-se - que estão prestes a se tornar ilegais na europa por falta de agilidade na tramitação de seus papéis como estudantes na espanha. acontece que qualquer pessoa que queira estudar aqui deve desembarcar com um visado do consulado espanhol ou da embaixada espanhola. esse visado, cujas normas de expedição dependem do consulado, tem validade de 3 meses e ponto. nesse período, em tese, o estudante vai fazer sua matrícula numa insituição de ensino espanhola e encaminhar seus papeles, geralmente através da própria instituição. acontece que ninguém avisa que, ao chegar aqui, não basta ter feito tudo o que o consulado te pediu antes de deixar o teu país - carta de alguém se responsabilizando em te mandar 960 euros por mês, no caso do brasil. é preciso, de qualquer forma, comprovar que vc tem um depósito de 4 mil euros numa conta espanhola - a conta é fácil de abrir, já aviso. em outros lugares, vão dizer que vc também pode comprovar que recebeu 600 euros nos por mês nos dois últimos meses. bem, o fato é que, dependendo da situação econômica da pessoa - que além da matrícula, tem aluguel e comida pra bancar - o tempo vai passando e quando vc vê, falta menos de um mês para vencer o seu visado, seus papeles foram encaminhados ao governo civil, mas ainda nada. afinal, a expedição da sua tarjeta de residência pode demorar até 3 meses. e aí chega o natal, 15 dias de férias, vc tem uma graninha e quer viajar. ou sua mãe está muito doente e vc vai visitá-la. não pode. ou melhor: poder, pode, mas corre o risco de não poder entrar ou ser extraditado, dependendo de onde vc vem.
e pra quem pensa que o fato de ter um passaporte da UE é a salvação, está muito enganado. a não ser que vc seja um estudante erasmus, também tem que apresentar a fatura de 4 mil euros para pedir o visto de residência como estudante. em tese, depois de um mês, vc é um "ilegal". pior é tentar entender como se faz para trabalhar como freelancer...
na pia a louça suja me lembra a roupa suja no tanque que a vida é. itamar assumpção disse muita coisa já. entre elas, essa. e quem sou eu pra discordar de um negro dito?
momento querido diário
posto em pé, mas naum me importo. afinal, naum há nada como um dia depois do outro e hoje estou num daqueles dias de alegria. o dia está branco, o sol naum brilha como poderia, mas a tristesse que me perseguiu ontem me tornando a pessoa mais mau humorada do mundo foi embora, passou. pessoas antipáticas se tornaram simpáticas, a dor de cabeça tomou doril e a parte chata do livro acabou. falei com meu pai, meu irmaum e com amigos, recebi e-mails queridos e vejo luzes no fim do túnel que é alugar um apartamento em barcelona.
com os dias, as coisas foram ficando mais claras: la alegría del intento, como se propõe a ser a festa kosmópolis, finalmente se revelou em diversas palestras, duas coletivas e algumas performances e fragmentos. agora tenho o bloco cheio de anotações e a cabeça tonta. carlos fuentes, arnaldo antunes, julio ortega. cláudio guillén, hoda barakat, ryszard kapuscinski. rolando sánchez mejías, pawel huelle, magda carneci. vou desaguar aos poucos. até porque amanhã tem mais.
ontem me apaixonei mais uma vez. ok, confesso que me apaixono com facilidade. principalmente por mentirosos sedutores como jean-claude carriere. não cheguei muito perto, estávamos a algumas filas de distância, ele no palco e eu na platéia. mas foi ele começar a falar pra que eu, e acho que toda a audiência, ficássemos de queixo caído. sem rompantes, ele abriu a série patrimônio oral da fiesta kosmópolis de la literatura, no hall proteo do centro de cultura contemporánea de barcelona - uma iniciativa audaciosa, mas que, apesar de presenças como a de jean-claude, não conseguiu mostrar a que veio no dia da abertura.
com 25 anos de trabalho na índia e diversos períodos passados na amazônia, o roteirista de buñuel concluiu que "un pueblo que no puede mirar, ohir y compartir mentiras perde su identidad." citando buñuel, lembrou à platéia que a imaginação humana não tem limites. "el ser humano no es hecho unicamente de realidade. el mundo del imaginário, de la ficción es inseparable de la realidad." com a suavidade com que narrou algumas histórias do livro o círculo dos mentirosos, ninguém duvidou.
ah, sim. o croissant. existe um croissant dos sonhos. na forn de pa mistral [ronda de sant antoni, quase na plaça de la universitat]. a massa é fininha, a cobertura é de um pozoinho de açúcar, e não há traços da gordura que se vê nos croissants falsificados que se encontra por toda parte. o recheio pode ser de chocolate, um chocolate de verdade, meio amargo, perfeito. pode também ser de creme: um creme branquinho e docinho, de leite, engrossado só com a clara dos ovos. da próxima vez, vou experimentar também as ensaimades.
informe romano de saúde e beleza: para as rugas, favas e caracoles.
para unhas fracas, semillas de linaza.
para deixar seus dentes mais brancos, una mezcla de cebada, sal y miel.
para fazer uma boa sesta: de 210 a 260 litros de vinho por ano, ou de 1/2 a 3/4 de litro por dia. misturado com sal e mel e, às vezes, com ervas.
[fonte: museu de história de la ciutat, barcelona, que se chamava colonia julia augusta faventia paterna barcino - ou simplesmente barcino - quando foi criada, entre os séculos 15 e 10 ac. as ruínas que se encontram hoje no subsolo da cidade - e que se pode visitar a partir de diferentes pontos de partida - são um pouco mais novas, dos séculos I e II dc. dos íberos que habitavam a região antes da chegada dos romanos, há poucos vestígios. sabe-se que eles viviam em sociedades governadas por caudilhos.]
o vilaweb é o village voice da catalunya. é independente e só fala catalão. e não é impregnado do nacionalismo de direita que toma conta do único periódico impresso daqui, o avui, porta voz da generalitat - o governo catalão.
javier ruibal canta a espanha do meu lado, mas eu ouço um italiano falando sobre os negros e a bahia no gravador. a primeira entrevista a gente nunca esquece. pelo menos, foi em português. meus instrumentos de trabalho: um gravador sanyo prateado comprado às pressas pelo jorge na barceloneta e a lomo. sim, estou cruzando os dedos para que a foto saia com foco. o entrevistado: lívio sansone, doutor em antropologia, professor da universidade federal da bahia e idealizador do projeto fábrica de idéias. em breve - eu aviso quando, mas espero que seja semana que vem! - na revista focus 2004.
não, a resposta que eu tinha encontrado estava errada. e sem a ajuda dos universitáros, jorge penny solucionou o drama dos nossos blogs. llavors, nosaltres puguem escriure again!!!
pra comemorar, atualizei minha bonequinha do tempo. com sua franjinha típica, informa que ahora hacen 8 grados en barcelona.