[slow food]
era noite ao meio dia. o restaurante enchia lentamente, contrariando as expectativas. normalmente a essa hora a fila já desce as escadas. talvez seja necessário dizer que hoje não é um dia normal. dentro e fora, o clima convidava a uma demora diferente da habitual: em breve iria cair uma puta chuva, e a sensação ali era de estar em algum universo paralelo, aconchegante demais para ser real. o mundo estava suspenso: a manhã de horas na fila do banco, a tarde num ônibus cinza com aspecto de uti, o frio, gelado depois da chuva, e o falso calorzinho que anteciparia o “suave temporal”, segundo a descrição de um site especializado. parado, mas não imóvel. o movimento podia ser comprovado pelas pessoas que se olhavam, falavam até. mas as palavras não diziam. o som das vozes não preenchia os espaços vazios. era e não era: só a luz. essa sim, enchia o casarão, transformando o verde das paredes em azul e fazendo o vermelho ir além da cor. era meio dia e era noite e a chuva caía sem parar. ninguém percebia, mas o tempo não correria hoje.