reality show eu não conhecia tim lopes. como a maioria dos brasileiros que vivem fora do rio de janeiro, eu provavelmente nunca li suas histórias. ok, eu sou jornalista e deveria pelo menos ter ouvido falar. mas esse não é o caso. também quero deixar claro que não estou escrevendo sobre a morte dele porque sou jornalista e preciso defender a classe. aliás, acho muito questionável – e pouco discutida entre os próprios jornalistas – a forma como ele e a maioria dos repórteres policiais agem para apurar fatos criminosos: câmeras escondidas e disfarces, na minha opinião, deveriam ser utilizados apenas com o aval da justiça e a proteção da polícia. afinal, mais do que apurar um fato, o repórter que age assim está ajudando a desvendar crimes – papel da polícia e da justiça em qualquer país em que vigore o mínimo de democracia. acontece que, muito provavelmente, o pouco do que eu e você sabemos sobre a realidade do tráfico no rio de janeiro se deve, mesmo que indiretamente, ao trabalho desse repórter que morreu na semana passada e nem chegou a ser encontrado tamanha a brutalidade do crime que ele ajudava a denunciar. não fosse assim, não saberíamos o que se passa no wild side da vida urbana. a discussão é complexa, pra não dizer que é uma faca de dois gumes, mas dela não poderia ficar de fora a necessidade de proteção das pessoas que, muito corajosamente, assumem essa responsabilidade de enfrentar o crime com as palavras. pra quem ainda acha que a morte dele só não entrou para as estatísticas porque o cara era repórter “da globo”, sugiro a leitura de “respondendo a um comentário”, no blog da cora rónai, que trabalha na mesma empresa, leva uma vida pacata, mas argumenta bravamente sobre o significado desse fato.