o seu olhar melhora o meu. essa frase da música do arnaldo antunes resume o efeito do documentário Janelas da Alma no olhar de quem pode ouvir o filme. a trilha - linda, de autoria do semiólogo da música wisnick sodré - não conta com a descrição apaixonada da composição de paulo tatit e arnaldo antunes (o seu olhar, ninguém, 1995) e, de certa forma, o próprio filme priorizou pontos de vista mais racionais. mas a paixão do olhar segundo joão jardim e walter carvalho está ali, nas benditas entrelinhas, nos espaços de reflexão deixados pelo filme e lembrados por win wenders, na descrição de saramago sobre suas ridículas conversas com as plantas do jardim - uma forma, segundo ele, de acompanhar o desabrochar da vida num momento em que ele já se sente murchando -, na bem humorada visão do olhar deixada por hermeto pascoal e seu proeminente terceiro olho incrustrado no meio das sobrancelhas, na triste, extremamente triste versão do olhar da cineasta inglesa que eu não lembro o nome e que queria ser princesa mas era sempre o rei porque era vesga, nos casos de amor do fotógrafo cego com suas modelos, na declaração de amor ao amor feita pela cineasta agnes varda. pra ver e chorar e pensar. e pra ficar com aquela vontade de ter pra guardar.